ABRUPTO

26.2.05


BIBLIOFILIA: QUANDO HAVIA AGRICULTURA...







... faziam-se livros destes: António Luís de Seabra, A Oliveira. Projectos para a sua Cultura Racional. O livro é um pequeno tratado sobre olivicultura publicado em 1935. Duvido que houvesse muitos agricultores com esta capacidade de fazer uma cultura "racional", mas o esforço vinha em conjunto com a publicidade. O livro era uma iniciativa publicitária da CUF e da Imperial Chemical Industries (ICI), uma multinacional dos adubos, ambas grandes investidoras neste tipo de folhetos. Mas a capa denota a irrealidade, com aquelas camponesas vestidas como num rancho folclórico, quase a dançar no trabalho, sem qualquer sinal de esforço físico, como se os seus aventais chegassem para receber as azeitonas. Este mundo irreal é acentuado na contracapa onde um par parece namorar à volta de um cesto de azeitonas. Como se era feliz na agricultura!

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OUVINDO


Brendel, Schubert, Impromptus.

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BIBLIOFILIA: O D'ANNUNZIO DAS DACTILOGRAFAS E DAS MANICURAS


Livros encontrados nuns restos que nunca foram arrumados, vindos de uma casa hoje quase em ruínas. Livros mais que comuns, vulgares, daqueles que se podem comprar por um euro nos alfarrabistas, também aí em fundos dos fundos, que ninguém quer. Mas, para mim, livros e tempo são a mesma coisa, tempo que demora a lê-los e tempo que eles transportam. E quando se abre a porta a esse tempo, ela nunca se fecha.

Veja-se o romance de Guido da Verona, A Que Não se Deve Amar, tradução de António Ferro de Colei che non si deve amare, escrito em 1911. A capa veneziana interessou-me , mas pensei em mais um dos romances cor-de-rosa que eram populares nos anos entre as duas guerras. A edição portuguesa da Empresa Literária Fluminense é de 1928. Foi a capa que me chamou a atenção, com o seu tom fitzgeraldiano, a dama desequilibrada junto de um cavalheiro mais alto, e, nesse desequilíbrio, colando-se a ele numa forma que, à época, seria certamente “desavergonhada”. O vestido e as transparências acentuam todo um movimento erótico. Era literatura para homens ou para mulheres? Não li o livro, não sei, embora suspeite que como a cara do cavalheiro está da mesma cor da senhora, deve ser “a que não se deve amar” que faz perder a cabeça ao cavalheiro, logo é literatura para senhoras. Digo eu, com certezas a mais. Um resumo do romance diz que é uma história de ascensão social – excelente matéria cor-de-rosa – ele jogador e ela “mantenuta per lei”.

Quem seria este Guido da Verona para além de ser de Verona, e ter ar de pseudónimo? Nem uma coisa nem outra. Era de Modena, mais propriamente de Saliceto Panaro, onde nasceu em 1881 e não era pseudónimo. O mais interessante é que era futurista, dandy, jogador (autor de um tratado de jogar á roleta Il trattato delle possibilità impossibili con l'arte di vincere al gioco), e imensamente popular. Classificado como autor de "romanzatura da coltre e da conforto intimo", ou, noutra notável classificação, de «D'Annunzio delle dattilografe e delle manicure», o seu livro mais popular tem também um título que diz tudo Mimì Bluette, fiore del mio giardino. Valeu-lhe de pouco a fama e a popularidade, porque Guido da Verona teve uma vida agitada e, no fim, trágica, passando de amigo dos fascistas a perseguido por eles. Morreu (assassinado? suicida?) esquecido em 1939.

Estão a ver como funciona o tempo? Já estou no meu momento Pitigrilli, outro célebre esquecido. Sic transit...

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COISAS SIMPLES


Bonnard

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EARLY MORNING BLOGS 438

Aos amigos


Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.

- Temos um talento doloroso e obscuro.
construi­mos um lugar de silêncio.
De paixão.


(Herberto Helder)

*

Bom dia!

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25.2.05


SCRITTI VENETI

Quando as criadas se chamavam Colombina e Corallina, e os criados Tiritofolo, se escrevia para o Carnaval de 1751 - ah! o mundo a fermentar para a grande revolução ...– e se começava assim, staccato, ligeiro e rápido, com Rosaura “vestita pomposamente, a sedere ad un tavolino collo specchio in mano”,

COL. Eccomi, signora.
ROS. Guarda, Colombina, questa scuffia mi sta male, non è egli vero?
COL. Mi par che stia bene.
ROS. Oibò, non mi posso vedere.
COL. E pure è quella che vi piaceva tanto. Ieri diceste che non avete mai avuto una scuffia meglio fatta.
ROS. Ieri mi pareva che andasse bene, e oggi no.
COL. Compatitemi, signora padrona, siete un poco volubile.
ROS. Impertinente, così parli di me?
COL. Via, compatitemi, l'ho detto senza intenzione di offendervi.
ROS. Va via di qua.
COL. Non credeva che l'aveste per male. So che mi volete bene, e che da me soffrite qualche barzelletta.
ROS. Non voglio barzellette. Corallina, dove sei? (chiama)
COL. Come, signora, chiamerete la sottocameriera? Farete a me questo torto?
ROS. Mi voglio far servire da chi voglio io, e tu va via di qui.
COL. Vi aveva da dire una cosa per parte del signor Lelio.
ROS. Non voglio sentir parlare di Lelio.
COL. Mi diceste pure ieri, che lo salutassi per parte vostra.
ROS. So che è stato in casa della signora Eleonora, non lo voglio più per nulla.
COL. La signora Eleonora è pur vostra amica.
ROS. Sì, sì, è mia amica! Se verrà da me, ci avrà poco gusto.
COL. Ma, cara signora padrona, io vi voglio bene e vi parlo per vostro bene. Ieri avete fatto tante finezze alla signora Eleonora, avete dette tante belle parole al signor Lelio, e oggi non lo volete sentir nominare. Che concetto volete che si faccia di voi?
ROS. Va via di qua.
COL. Sì, sì, vado. (Vi vuol pazienza, e bisogna compatire il temperamento). (da sé, e parte)


só pode ser Goldoni, La Donna Volubile, e só se pode estar em Veneza.

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NATUREZA MORTA DE PRÍNCIPIO DE TARDE

Da direita para a esquerda: um número das Faces de Eva, quatro comandos (de televisão, DVD, cabo por satélite, e um que devia resumir os outros todos, comprado numa loja chinesa e que, por incompetência, se recusa a cumprir a função), uma agenda de 1959, das Caves Aliança, cheia de papéis dentro. Dentro: uma carta antiga da Juventude Musical Portuguesa, um desenho que ficará para outras naturezas. um folheto de W. Ribeiro da Silva, New York, Andorra e Rio de Janeiro, Comédia Satírica e Quase Realista em três actos. Andorra? Pormenores das personagens, incluindo uma "quite a dish" e um "moralista" com dois cursos superiores:



Uma mão, uma pilha de zips, uma lupa, um lápis do Sofitel, uma reprodução de Warhol, Dance Diagram-Tango, um pedaço de lava, um ecrã, dois olhos, um radiómetro quase parado, uma SonicTape para medir as distâncias, uma estação meteorológica – dezanove graus aqui, dezasseis lá trás, doze lá fora - , um telhado, um gato preto no telhado ao sol, azul do céu sem nuvens, tempo, uma ampulheta invisível, um dado, um pedaço de lava, um azulejo, água, duas canetas, uma mão, um rato, um telefone desligado, um ruído longe, nenhum ruído perto, ar, um Schubert por Brendel. Impromptus. Impromptus.

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BIBLIOFILIA: MICRO-ACTOS MACRO-DIGNIDADE

José Pereira Tavares, Exame de Consciência, Aveiro, Labor, 1999

Este livro, que ninguém quis, quando saiu, distribuir pelas livrarias, e permanece esquecido, é um exemplo notável de como ignoramos e , ao ignorar desprezamos, o melhor que temos. Trata-se das humildes memórias de um professor do Liceu, quando Liceu se escrevia com letra grande e era o local de elite do ensino secundário, onde uma elite de professores ensinava uma elite de alunos, escolhidos obviamente pela sua condição social, que permite um retrato de um tempo que nunca mais voltará. Em muitos aspectos ainda bem. O que convinha era não deitar o menino com a água do banho, ou seja a qualidade do ensino com a sua democratização. Para perceber o que se passou, o estudo do “mundo” dos professores do Liceu, quando esta era uma profissão altamente prestigiada devia ser obrigatório para os professores de hoje. Este livro mostra o mundo cultural, pedagógico e cívico de um típico professor do Liceu, José Pereira Tavares, reitor do Liceu de Aveiro, que vai dos anos vinte até à década de sessenta nas suas recordações. Depois percebe-se a diferença. Pura arqueologia.

Mas há mais. José Pereira Tavares era um republicano conservador, o último homem a que se podia chamar um subversivo, detendo aliás um lugar de reitor que implicava um módico de confiança política do regime salazarista. Mas os homens são como são, e este tinha a dignidade simples e intacta. Nestas memórias conta um episódio de 1951, um ano de grande radicalismo da ditadura, no princípio da guerra-fria. Eis como este pequeno acto, quase anónimo, – tudo isto se passa convém lembrar para os dias de hoje, sem ninguém saber - , nos mostra a respiração da dignidade.
" Ora em 13 de Janeiro de 1951, recebi eu, como entidade oficial, um "Manifesto" da Comissão Executiva da União Nacional, acompanhado da seguinte circular da Comissão Distrital de Aveiro:

"Junto se remetem a V. Exa alguns exemplares do "Manifesto" elaborado pela Comissão Executiva da U. Nacional, agradecendo o favor de lhe dar a maior difusão possível entre o pessoal que se encontra sobre (sic) as ordens de V. Ex. Esta Comissão Distrital muito grata ficaria se se dignasse enviar-lhe uma lista "com indicação do nome, ano de nascimento, profissão e morada" dos indivíduos que desejarem inscrever-se na U.N., para em seguida enviar a V. Exa os respectivos boletins de inscrição. Etc, etc. - Gaspar Ferreira, Francisco José Matias, Arménio Martins".

Na "Lista de inscrição" lia-se o seguinte: "Os cidadãos abaixo assinados declaram por sua honra, sem que a isso hajam sido coagidos, que apoiam leal e desinteressadamente a situação criada pelo 28 de Maio de 1926, concordando com as ideias e intuitos com que se organizou esse movimento e com a orientação indicada pelo Governo no manifesto à Nação publicado no primeiro aniversàrio do mesmo. Mais declaram que, quaisquer que tenham sido os seus ideais políticos, os põem de parte, olhando apenas ao progresso e engrandecimento da Pátria, que exige, neste momento critico da nossa História, a união e o esforço desinteressado e leal de todos os seus filhos, para o que oferecem o seu apoio e colaboração".

Os professores do Liceu ficaram alarmados, supondo que era obrigatória a sua filiação. Acalmei-os e prometi indagar dos propósitos dos indivíduos que subscreviam a circular. No dia 18 de Janeiro, escrevi ao Cor. Gaspar Ferreira, nos seguintes termos:

"Exmo Sr. Cor. Gaspar Ferreira, meu mt. prezado Amigo:

Recebi a circular da Comissão Distrital da U. Nacional de Aveiro, convidando-me a enviar a lista dos meus subordinados que desejem nela inscrever-se.

Respondendo par mim, venho pedir a V. Exa se digne informar-me sobre se, não me inscrevendo, seriam postos em dúvida o meu nacionalismo e o meu patriotismo.

Sabe V. Ex. mt. bem os motivos por que me recusei a ingressar na U.N., quando ela, sendo V. Exa Governador Civil, foi criada; e também não ignora que esses motivos ainda subsistem. A minha posição de cidadão português sem partido não obstou a que, sem eu o desejar, me convidasse pessoalmente, em Outubro de 1940,0 Sr. Ministro da Educação Nacional (Dr. Mário de Figueiredo) para de novo assumir o cargo de reitor do Liceu, que é lugar em que só são investidos indivíduos da confiança do Governo. Venho desempenhando essas funções há dez anos completos, sinal de que se reconhece que à frente do Liceu está um português incapaz de trair a sua Pátria, ou de insuflar no espírito da Mocidade, cuja educação cívica superiormente dirige, sentimentos que não sejam de puro nacionalismo.

No Manifesto, apela-se para o meu patriotismo. Ora a mim repugna-me ter de o afirmar com a inscrição num partido em que Monárquicos e Integralistas, em vez de se limitarem a colaboração com o Governo, aproveitam a ensejo para fazerem propaganda das suas ideias politicas, a sombra de instituições cuja existência não está em causa.

Desejaria, portanto, continuar a ser português tal qual o tenho sido sempre, isto é, sem subordinação a qualquer partido. Nem por isso deixarei de aplaudir abertamente, como sempre tenho feito, tudo quanto de bom ou de óptimo os Governos de Salazar façam e nem por isso deixarei de continuar a orgulhar-me da minha qualidade de português e de patriota.

Se porém, a minha escusa em inscrever-me na U.N. pudesse ser interpretada par alguém com a confissão tácita de que não sou nacionalista, inscrever-me-ia; mas a U.N. nada lucraria com isso, visto que a minha inscrição equivaleria somente a uma declaração anticomunista, como as que, por mais de uma vez, por força de leis do meu País, tive de fazer, como funcionário público, perante o Governo".

Como o portador da carta não tivesse encontrado o Cor. Gaspar Ferreira, no dia seguinte lha li, para que me esclarecesse.

A resposta foi a de que a filiação dos funcionários na U. Nacional não era obrigatória e pediu-nos considerasse a circular como não recebida.

Ficaram satisfeitíssimos os meus colaboradores. Na lista das inscrições só veio a figurar uma assinatura."

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COISAS COMPLICADAS


Corot

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EARLY MORNING BLOGS 237

The Half-People


A man can wander out by himself,
far away from the others and, if he has
enough room, grow into a giant.
Dwarfs live in crowded places
making tools so small human hands fumble
when they try to use them.
Then there are the half-people,
those with whole heads and whole genitals,
but with only one leg and one arm.
They hop around, longing for the twins
of themselves. They hop around like stripes
peeled from the hides of majestic animals.


(Denise Duhamel)

*

Bom dia!

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24.2.05


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: ENCELADUS, ESPELHO MEU



- Porque brilha tanto Enceladus?

- Porque parece ter neve, brilha como a neve.

- Pode-se "ir à neve" em Enceladus?

- Pode, mas com muito cuidado e daqui a alguns anos. Ainda não está nos folhetos das agências, mas lá chegará o tempo.

- E há festas, e pode-se escorregar?

- Há e pode-se escorregar, mas devem-se evitar os vulcões de água.

- O que é um "vulcão de água"?

- A água nasce do chão como a lava num vulcão.

- E é mau?

- Não. É bom. os vulcões são bons, só são às vezes muito perigosos.

- Acho que vou marcar a viagem...

- ...para daqui a muito tempo. Mas reserve, reserve. Só tem que deixar o sinal.

- Eu deixo o sinal.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DOIS POETAS



Acabei de ler, no ABRUPTO, um soneto de Frei Agostinho da Cruz. Dado que os irmãos poetas - Frei Agostinho da Cruz e Diogo Bernardes - nasceram em Ponte da Barca, envio uma fotografia do monumento existente no denominado Jardim dos Poetas e onde se podem ler duas quadras, datas e locais de nascimento e morte.

(A.Oliveira)

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A LER

no Jornalismo e Comunicação A venda da Lusomundo Media: mais do que um negócio,

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JORNALISMO CUIDADO

No Jornal de Notícias desta Segunda-Feira, na última página eram apresentadas quatro ou cinco citações de blogues, entre os quais o Abrupto, o Barnabé, a Causa Nossa e outros que não me recordo. Tinha o nome do blog, em formato URL, e por baixo a citação.

A citação do Abrupto era a seguinte :

O PS está à altura deste resultado?
Eu acho que o resultado é em si mesmo gerador de responsabilidade.Que absurdo seria face a tão grande capital de esperança falhar...o golo.O inimigo era a abstenção e foi vencido.A campanha suja veio a seguir e podia ter liquidado humana e politicamente Sócrates.Foi derrotada. A responsabilidade é acrescida, mas foi forjada neste quadro difícil. Por isso
confio e acredito.

Como V. sabe melhor do que eu, estas palavras são do José Magalhães. Acontece que o jornal não identificou o autor, levando por isso a pensar que o autor das mesmas era o autor do blog.

Na minha opinião, isto não foi inocente. O "jornalista" que seleccionou os textos, de certeza que leu o nome de José Magalhães no fim do texto e até o motivo porque estava ele ali a escrever, mas optou por não o identificar. As razões deste "lapso" para mim são claras: As pessoas que não lêem os blogues, e que são a esmagadora maioria, muitas delas pelo menos já ouviram falar do Abrupto como sendo o "blog do Pacheco Pereira". Assim o objectivo escondido era atribuir-lhe a si o "confio e acredito" que o "PS está à altura do resultado".
Obviamente que a seguir não vão confirmar se é verdade ou não. Primeiro porque é suposto ser uma citação, segundo, como é conhecida a sua discordância face a Santana Lopes, são levadas a pensar que até pode ser verdade o que estão a ler e que de facto até acredita no Sócrates.

Como não vi qualquer referência no Abrupto a isto, só posso presumir que, ou não tomou conhecimento ou não deu importância. Se é o segundo caso, pelo menos fica registada a minha indignação perante este "jornalismo".

(Mário Almeida)

Não vi. Obrigado por me ter informado.

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COISAS SIMPLES


Zurbarán

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EARLY MORNING BLOGS 436

For Once, Then, Something


Others taunt me with having knelt at well-curbs
Always wrong to the light, so never seeing
Deeper down in the well than where the water
Gives me back in a shining surface picture
My myself in the summer heaven, godlike
Looking out of a wreath of fern and cloud puffs.
Once, when trying with chin against a well-curb,
I discerned, as I thought, beyond the picture,
Through the picture, a something white, uncertain,
Something more of the depths—and then I lost it.
Water came to rebuke the too clear water.
One drop fell from a fern, and lo, a ripple
Shook whatever it was lay there at bottom,
Blurred it, blotted it out. What was that whiteness?
Truth? A pebble of quartz? For once, then, something.


(Robert Frost)

*

Bom dia!

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22.2.05


COISAS SIMPLES


A. Zorn

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EARLY MORNING BLOGS 435

Da Oração


Doce quietação de quem vos ama,
Em serviços, Senhor, que tanto quanto
Amado sois, tão longe o fim de tanto,
Subindo mais, e mais, mais se derrama:

Ardendo por arder em viva chama
De amor do vosso amor, a voz levanto;
Sinto, suspiro, choro, colho, e planto
Ao som doutra suave que me chama.

Onde se vai, Senhor, quem vos ofende?
Donde levais, Deus meu, a quem vos segue?
Onde fugir se pode uma de duas?

Morto por quem o mata que pretende,
Ou que extremos de amor há que nos negue
Quem culpas nossas chama ofensas suas?


(Frei Agostinho da Cruz)

*

Bom dia, com chuva!

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JORNALISMO DE BULLDOZER

Mais uma vez o Público não diz a verdade. Nunca afirmei numa entrevista na Antena 1 que apoiava qualquer candidato à liderança do PSD, embora tenha elogiado a iniciativa de Marques Mendes que considero "corajosa". Mas fiz a distinção clara entre os dois actos - apoiar o candidato e apoiar a iniciativa - o que pelos vistos os jornalistas do Público não entendem porque não lhes facilita a notícia. Parece que não vale a pena fazer distinções, porque o jornalismo de bulldozer apaga tudo para nos dar o maravilhoso mundo a preto e branco. Como qualquer pessoa avisada espero para ver quais vão ser os candidatos que se vão apresentar para depois escolher, sem com isso deixar de valorizar o mérito de eles aparecerem. Felizmente o Abrupto ainda me permite ser dono da minha palavra a várias cores e não a preto e branco.

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21.2.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE OS VOTOS EM BRANCO

Os votos em branco, que Ricardo Carvalho (21:23 VOTOS EM BRANCO) incorrecta e abusivamente associa a um virtual "Partido de Saramago", merecem, efectivamente, uma leitura política. Que lamentavelmente ninguém parece interessado em fazer neste rescaldo de clubite partidária. Muitos terão encontrado no voto branco a única saída para o protesto contra o partido que deixou chegar à sua presidência e aceder ao (des)governo de Portugal um homem como Santana Lopes, que, na verdade, já todos "sabíamos quem era".

(Helena Rodrigues)

*

O voto em branco é um direito, e não foge ao cumprimento da obrigação cívica de votar. É a 6ª "força política", e a 1ª sem assento parlamentar. Muito diferente da abstenção e do voto nulo, o voto em branco é a autêntica expressão de quem está totalmente desiludido com as opções que lhe são apresentadas.

De entre os vários argumentos que tenho ouvido contra o voto em branco, há apenas um que subscrevo: os boletins de voto em branco podem ser usados fraudulentamente, sendo convertidos fácilmente em votos em um qualquer partido.

Sugestão: acrescentar uma opção de voto em branco nos buletins de voto.

(Luis Vaz de Carvalho)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FALAR

Por tudo aquilo que foi dito durante esta campanha (e outras) e por tudo aquilo que ainda vai ser dito -

"Talking and eloquence are not the same: to speak and to speak well are two things. A fool may talk, but a wise man speaks." - Ben Jonson

(Abel Gomes)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "MODELO NÓRDICO" (2ª série)

Na Dinamarca o Partido que o leitor Nuno Furtado chamou de centro-direita é-o apenas na conjuntura dinamarquesa, que é muito mais "à esquerda" que em Portugal. Este partido propôs-se a não aumentar os impostos (IRS médio por habitante :42% excluindo a Segurança Social, 25% de IVA em todos os produtos, 180% de Imposto Automóvel).
Este erro de olhar direita vs esquerda, independentemente de onde está o "centro" está a ser cometido também pelos meios de comunicação, quando comparam os resultados eleitorais com os de 1974, dando a impressão que o país é agora mais "de esquerda". Ao menos o Dr. Paulo Portas não cometeu este erro: explicitou que em nenhum país civilizado um partido democrata-cristão era menos votado que um partido trotskista. Enganou-se, ou tentou-nos enganar: O equivalente dinamarquès do CDS-PP é o Partido Democrata-Cristão (que ainda assim nao defende a penalização do aborto) que desta feita perdeu todos os deputados que ainda tinha. O equivalente dinamarquês do Bloco de Esquerda (Ehendslisten) tem agora 4% dos votos.

(Rodrigo Gouveia Oliveira, Copenhaga)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O MEU ACTO CÍVICO

Paro uns segundos à porta da sala 2 e olho lá para dentro. O suficiente para os membros da mesa de voto olharem para mim com ar expectante. Vai entrar ou fica a ver? Continuo pelo corredor, a minha secção é a nº 13, na sala 4, mas foi na sala 2 que fiz a primária, da 1ª à 4ª classe. À porta da sala 4 - 13ª secção de voto, volto a parar, verifico o cartão, sim é aqui, mas paro a olhar devagar para o poster que representa o boletim de voto que vou preencher daqui a uns momentos. Percorro a lista, com a pequena esperança de uma surpresa, no boletim ou em mim... que não acontece.
Entro, cumprimento a mesa, entrego BI e cartão eleitor, pego no boletim, dirijo-me para a câmara de voto. Olho para baixo, uma natureza morta!
Uma mão, um boletim, uma caneta bic cristal, presa por um cordel...
Dobro o boletim em quatro, insiro-o na urna, pego nos cartões e vou-me embora. Esqueço-me de olhar para dentro da sala 2.

(Ricardo Resende)

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UMA PARTE MUITO SIGNIFICATIVA

das quase duzentas mensagens que hoje recebi vem de militantes do PSD que perguntam o que podem fazer face ao descalabro do seu partido e muitas de pessoas que pretendem inscrever-se no PSD para ajudarem ao mesmo objectivo. Nada lhes posso dizer de imediato, a não ser que sim, que se inscrevam, e que sim, que se mobilizem. Aos que me pedem para subscrever a sua proposta, fa-lo-ei certamente.

Mas, o Abrupto não é mais do que uma página pessoal, em que a discussão política tem tido um papel maior do que o seu autor desejaria. Tenho, no entanto, em conta que a conjuntura é especial e acentua a necessidade de uma discussão política numa área em que ela tem estado afastada pelo praticismo eleitoralista e pelo populismo grosseiro, que conduziram o PSD ao desastre de ontem. Isso explica os números excepcionais de "pageviews" que o Abrupto tem vindo a ter, aproximando-se hoje das 20000.

Penso que , em breve, todos poderão ter o papel que desejam com o aparecimento de candidaturas ao Congresso extraordinário e dentro das estruturas do partido e no debate dentro e fora, dar a sua contribuição. Uns votando, os que já cá estão, outros ajudando na campanha eleitoral interna, os que agora se inscrevem. A democratização do PSD passa também por aqui.

(Nestas circunstâncias compreenda-se a minha completa impossibilidade de responder individualmente a todas essas cartas. Tenho neste momento, desde a fundação do Abrupto, 7461 mensagens por responder…)

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O TEMPO MUDOU

já choveu, um vento agreste bate na janela, as árvores não param, um ruído novo acrescenta-se aos habituais. Está na hora de partir ou de chegar?

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COISAS COMPLICADAS


Grosz

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PROPOSTAS: DIRECTAS JÁ

Seria saudável que o maior número de militantes fosse chamado a decidir, porque só assim se pode minimizar (e apenas minimizar) o peso das estruturas que se vão enquistar na escassez dos recursos e nos compromissos recentes que os garantiram. É cómodo pensar que haverá uma sequência sem ruptura de unanimismos: os que apoiaram Marcelo, depois apoiaram Barroso, e depois Santana e agora apoiarão quem vier. Não penso que vá ser assim tão simples, porque a maleabilidade interna é cada vez menor e a fraqueza alimenta a rigidez.

Neste contexto, e caminhando-se para a oposição, as autarquias são mais seguras, daí o peso e influência dos autarcas, sendo as estruturas locais são cada vez mais dependentes do poder autárquico e modeladas por ele. Resultado do desprezo pelo partido em si que, desde Cavaco, é norma nos dirigentes nacionais, com a fugaz tentativa da “refiliação” de Marcelo / Rio como excepção, a depauperação da qualidade política do aparelho partidário foi-se degradando. Desde meados dos anos noventa, o partido perdeu o contacto com as forças vivas do seu eleitorado natural e nacional, os self made man de hoje, nas universidades, nas empresas, na vida pública, a favor de uma “autarcização” de todas as suas estruturas.

Por tudo isto, um qualquer sistema de directas era hoje vantajoso para a democracia da escolha e para garantir que partido e sociedade civil não vão cada um para o seu canto, como aconteceu nos últimos seis meses. Eu fui o primeiro dirigente do PSD a ser eleito por eleições directas, – já ninguém se lembra mas a Distrital de Lisboa foi a primeira a fazer directas após alterações estatutárias com uma participação excepcional dos militantes, acabando com o sistema de eleição por delegados em assembleia –, e tinha então algumas reservas quanto ao alargamento do método a nível da direcção nacional do partido. A razão estava na mediatização das escolhas que inevitavelmente decorria das directas, que me parecia favorecer apenas os candidatos com mais televisão. Essa objecção permanece, mas, depois da última experiência do PS entre Sócrates e Alegre, parece-me a única maneira de fazer entrar algum debate de ideias e propostas no ambiente muito claustrofóbico das estruturas partidárias e mobilizar muitos militantes afastados da vida do partido.

Se se pretende renovar o PSD, depois de 20 de Fevereiro, dever-se-ia lutar não apenas por um congresso extraordinário mas por um processo que implicasse uma demissão colectiva de todas as estruturas distritais e eleições simultâneas para essas estruturas pelo método das directas em conjunção com a escolha de delegados para o Congresso. Não é impossível de fazer com os actuais estatutos, e daria um abanão a todo o partido, fazendo participar o maior número de militantes numa escolha que irá ser decisiva para a sobrevivência do PSD como grande partido nacional.

(de um artigo do Público)

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FALAS

Num dos tradicionais modelos socialistas europeus - a Dinamarca - foi recentemente reconduzido um governo de centro direita, com reiterado apoio popular. A Dinarmaca é actualmente a economia mais saudável do mundo, a sociedade mais justa do mundo - uma lição. E nós ainda andamos a brincar às "revoluções" e às esquerdas ditas modernas. Que triste complexo de esquerda que nunca mais morre.

(Nuno Furtado)

*

Lágrima no canto do olho
É o que sinto quando vou votar.
Sinto uma enorme alegria ao ver dezenas e dezenas de pessoas voltar à escola, para participar na vida de todos, para decidir do seu destino comum.

Espero que o voto electrónico venha um dia ajudar a reduzir a abstenção, permitindo que se vote em qualquer local onde se instale um écran táctil, recolhendo o voto dos acamados, facilitando a vida cívica a quem tem deficiências.
Mas espero também que não se chegue a votar maioritariamente por telemóvel ou pela internet, afastando os cidadãos destes momentos (raros) de reunião, de reunião física, em que todos se movem por todos e se olham nesse processo.

Depois, no regresso do voto, começa normalmente a sobressair em mim o sentimento incómodo do sentido da decisão. Mas isso são outras histórias, com outras lágrimas.

(Artur Furtado)

*

O facto da esquerda ter ganho não foi um objectivo mas sim uma consequência.
A consequência dos portugueses quererem uma mudança. Não pensem os partidos de esquerda que os portugueses voltaram a acreditar em ideologias, que os portugueses voltaram a perceber os valores que separam as cores na assembleia.

As únicas cores que os portugueses conhecem são as cores dos cartões dos árbitros e foi esse o papel que ontem, nas eleições, desempenharam. Não hesitarão por isso em dar um vermelho directo e expulsar o PS se neste mandato que se vai iniciar não se atingirem o que agora a moda política chama de objectivos.

A esquerda que não se iluda. Que não se perca em brindes à simpatia de quem é tão humano que até perde a voz, ou de quem é tão moderno que até promete empregos em economias de mercado com a credibilidade de quem promete chuva no deserto.

(João Diogo)

*

A matemática é uma ferramenta que nos indica valores concretos para diversas coisas. Transforma em números aquilo que constatamos com a observação formal dos diversos sentidos.



Em tempos de eleições ela nos ajuda a medir, com frieza, elementos sensoriais tão abstractos quanto a esperança, a aprovação, a desaprovação, a mudança, a legitimidade, a responsabilidade e, sobretudo, a vitória e a derrota.



Dos números retirados dos resultados eleitorais nas legislativas que ontem se realizaram, poderemos concluir muitas coisas e formular muitas questões. Mas uma questão, em particular, me faz pensar: se, para o PP (Paulo Portas), uma diminuição de 14,29% no número de deputados eleitos, em relação às últimas legislativas, é o suficiente para sair do cargo de líder do seu partido, porque para Santana Lopes uma diminuição de 28,43%, portanto um número duas vezes superior do que o atingido pelo líder do PP (Partido Popular), não significa necessariamente a mesma tomada de atitude?

*

Mas ainda existem outras questões que se podem formular: Por que para um, a falha de 100% dos objectivos leva a uma determinada atitude, enquanto para outro não? Será que para o outro a derrota, com uma diminuição significativa da força política de seu partido, não significa 100% de falha dos seus objectivos que, pelo que me lembro, era só o da vitória? Se não, quais seriam estes objectivos que se prolongam para além eleições?

Mais caricato do que o defunto discutir com os “amigos” sobre seu destino político carregando a alça do próprio caixão, seria um “zumbi” político buscando vingança contra aqueles que não quiseram posar para a fotografia.

Uma última questão, embora especulativa: quereria agora o Pedro criar instabilidade dentro do PSD o suficiente para inviabilizar a candidatura de Cavaco Silva às presidenciais? Pelo menos seria uma atitude coerente com a meninice guerreira. A democracia deste país precisa de um PSD forte.

(Edgard Costa)

*

O PSD mereceu esta derrota. O PS não fez nada por merecer a vitória.

O moral da história destes resultados é simples: Nestes 2 anos e meio, a coligação apresentou um projecto global sério e ambicioso. Mas houve três áreas centrais em que falhou por incompetência: economia, educação e justiça. Muitos do quadros do PSD recusaram-se a colaborar com o governo, porque iam ser tempos difíceis. No momento mais complicado, atiraram Santana Lopes para o meio da arena e desapareceram de cena. É certo que Santana Lopes também ajudou à festa. O resultado é justo por duas razões: o PSD mereceu a derrota; o PS, que nos colocou nesta crise, merece agora ter a responsabilidade absoluta de nos tirar dela.

(José)

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Uma nota à margem das eleições. Ontem quando fui votar no Liceu Filipa de Lencastre fiquei impressionando com a quntidade de velhos (com todo o respeito...). A minha mulher votou mais tarde e comentou o mesmo. Jantei em casa de uns amigos que fizeram o mesmo comentário (um votou no palácio Galveias outro no Liceu Camões). É dramático assistir ao envelhecimento de Lisboa, numa zona dita "nobre", mas mais estranho é cicular por estas zonas e verificar a quantidade de edifícios devolutos, entaipados, a cair ou que à noite têm apenas uma luz solitário perdida numa qualquer janela suja. Talvez ainda seja estranho falar hoje de autarquicas, mas não encontro paralelo em nenhuma cidade importante europeia, muito menos numa capital, e também não vejo ideias no horizonte...

(João Gundersen)

*

Citação de Pierre Desproges, humorista francês:
L'enfant croit au Père Noël.
L'adulte n'y croit pas, il vote.

(João A. de Carvalho)

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Abram as janelas e olhem para as ruas. Não há uma caravana, não há uma buzina e nem sequer uma bandeira.

Não há sequer contentamento, quanto mais alegria.

É a vitória de um mal menor. É esse Governo que temos, o de um mal menor.

Se calhar é o que merecemos.

(M. Gouveia)

*

Não pela maioria do PS - já se esperava
Não pela subida da esquerda - era inevitável
Não pela derrota do PSD - contribuí para ela
Não por ninguém nos ligar a nós, que exercemos o dever cívico em "branco" e que duplicamos - já é habitual
Mas porque nem com o custo de ter entregue o "ouro ao bandido" ao votar como votei, o líder do partido com que eu me identifico continua "cego" e não é capaz de assumir que não têm condições nem qualidades para ocupar o cargo que ocupa!

(Alexandre Feio)

*

Parece incrivel que estas palavras de Alfredo de Magalhães abaixo transcritas sejam de uma actualidade preocupante, parece que nada mudou nestes ultimos 85 anos.

Chegou a altura de deixar o recato dos nossos sofás e passar à acção, o futuro constroí-se com o contributo de muitos e nunca de um só. Por minha parte e pela primeira vez, decidi-me a filiar-me no PSD.
E necessário refundar o Partido.
É necessário correr com aqueles que rebaixaram o Partido "aos ultimos degraus da abjecção".
É necessário deixar de brincar aos partidos e aos paises.
Posso estar a ser lírico, mas não vejo outra alternativa.

Alfredo de Magalhães (Numa carta ao general Simas Machado sobre a morte de Basilio Teles em 1923.

"Esta gente portuguesa, toda ela, de alto a baixo, vai descendo vertiginosamente os últimos degraus da abjecção. Nada me surpreende. É a miséria integral. Algumas das individualidades que ainda ofuscam os olhos da nossa parvolândia com o esplendor da sua celebridade, tenho-as na conta de malandros da pior estôpa. Com suas falas e maneiras graves, e o competente pigarro da respeitabilidade convencional, elas são o modelo vivo da hipocrisia e da velhacaria triunfante, já se vê - bem comidos e bem bebidos - Modelos que este bom povo, corrompido até ao tutano da alma, vai seguindo e imitando fielmente, com tal ou qual nota de escândalo.[...] Tudo lama!
Esperança? Só a tenho no Dilúvio Universal.[...] Em Política só triunfam os homens de acção, Não basta ter caco. Em Portugal é mesmo preferivel ter cascos ....
"

(Luís Bonifácio)

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SÁ CARNEIRO

Só houve um comentário que ontem não pude fazer, que ontem pensei e hoje escrevo: Santana Lopes, mais do que ninguém, usa o nome de Sá Carneiro para se apresentar como seu herdeiro. A atitude que tomou ontem de não se demitir e insistir em aumentar o fogo e as cinzas em que deixou o partido, é o exacto oposto daquela que Sá Carneiro tomaria. É nestas alturas que se vê a dimensão dos homens.

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SOBRAS

com sentido. No meio do esforço para manter o blogue "aberto" no meio da mesa dos comentadores da SIC, escaparam-me muitas cartas e comentários que agora vou ler, escolher e publicar. Depois passar-se-á à frente.

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DE REGRESSO

num mundo que não é muito diferente. Mudou para já a conjuntura, e essa mudou muito. Falta aproveitar a mudança da conjuntura para criar condições para intervir na estrutura.

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20.2.05


TENHAM MEDO, TENHAM MUITO MEDO

pelo PSD nas autárquicas e nas presidenciais.

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A ÚNICA COISA

que não mudou nesta noite: Santana Lopes.

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GUERRA CIVIL

é o que Santana Lopes deseja e para a qual se vai preparar com o gosto pela politiquice interna que o caracteriza.

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COMEÇARAM

os truques. Nenhuma responsabilidade real.

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GOVERNO SOMBRA

É certo que é tempo de reconstruir a oposição. Mas uma oposição centrada num governo sombra competente e que acompanhe e fiscalize as políticas do PS. É tempo de acabar com investidas avulso e inconsequentes de guerreiros (sejam eles meninos ou não).

(Fernando )

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AMANHÃ

Portugal virou demasiado à esquerda. A minha maior tristeza nao é a maioria do
PS, sao os milhares de jovens que votaram BE e PCP. Venho de uma area muito de
esquerda em Portugal, a ciencia. Para que daqui a quatro anos seja diferente é
também aqui que o PSD deve entrar. Tenho 24 anos e amanha inscrevo-me no PSD.

(A.Antunes)

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FUTURO

Este resultado pode ter o condão de evitar uma guerra civil ou um cisma no PSD. É mau de mais para que a actual liderança se procure manter contra "ventos e marés".

A falta de entusiasmo nas ruas (pelo menos na cidade em que resido) prova, mais uma vez, que foi mais uma derrota do PSD do que uma vitória do PS. Este, tem todas as condições para se reorganizar, rever aspectos da sua organização que funcionam menos bem, que permitiram a subida a cargos de responsabilidade de gente medíocre, eleger uma liderança à altura da história e tradição deste partido e voltar a ser a voz reformista de que este país tanto necessita.

Para já, as eleições presidenciais deverão ser encaradas com a máxima seriedade. Porque o país precisará de um presidente competente e com sentido de estado. E porque o poder alcançado pelo PS poderá encurralar o PSD para uma situação de irrelevância se perder as eleições presidenciais e autárquicas que se avizinham.

(Ricardo Prata)

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AGORA

é tempo de reconstruir a oposição.

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A SUCESSÃO IMPOSSÍVEL

Leio esta notícia: O economista António Borges rejeitou este domingo a
possibilidade de avançar com uma candidatura à liderança do PSD, afirmando
que Manuela Ferreira Leite é a "candidata ideal" para disputar a Pedro
Santana Lopes a presidência do partido.

Entrevistado pela rádio TSF, o ex-vice-governador do Banco de Portugal
afastou a possibilidade de vir a candidatar-se à liderança do PSD, afirmando
não ter "nem curriculum, nem experiência" para conduzir o partido.

"O PSD já sofreu muito por ter [na sua liderança] pessoas mal preparadas e
sem experiência", disse António Borges, que falava após terem sido
divulgadas as projecções das televisões que dão maioria absoluta ao PS nas
legislativas antecipadas."

Muito curioso: significa impotência para remover Santana. O partido que
perdeu 30 deputados tinha perdido já as condições de saúde política
necessárias para governar e ser o que era.Foi objecto de um take-over
santanista.E agora PSL está grudado ao casulo que construíu - o seu bunker,
onde se toca o guerreiro-menino para as horas em que o líder está infeliz

José Magalhães

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DERROTA DO PP

Não tenho nenhum problema em reconhecer que o CDS falhou alguns dos seus
objectivos. Ainda é cedo, contudo, para saber exactamente quais.
ALX

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NO FIM

resultados devem ser comparados com resultados e não com sondagens.

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VITÓRIA?

Vitória? Que vitória?

O BE rejubila, mas percebe-se mal por que razão. Cresceu, mas tornou-se
irrelevante para o PS, não vai condicionar nada, vai continuar a pregar com
aquele ódio a tudo o que funciona, disfarçado de nova moral.
ALX

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PENA

Não sei porquê, mas de quem sinto mais pena neste momento é dos melhores
ministros que este governo conseguiu ter. Não merecem ficarem associados
a esta derrota estrondosa.

(José Carlos Santos)

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VOTOS EM BRANCO

Não esquecer os votos em branco, o “Partido de Saramago”.

Com a abstenção a descer tornam-se até mais importantes.
Pelo que vejo nos resultados até agora apurados quase que dobram! Um resultado histórico aqui também.

É ao fim ao cabo o 6º partido, o maior dos pequenos partidos.

(Ricardo Carvalho)

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OBJECTIVOS DO PP

Gostaria de relembrar aqui, aquilo que foram os objectivos do PP, e que
foram sorrateiramente alterando ao longo do tempo de campanha:

1) Ficar à frente dos votos PCP+BE juntos. Resultado: DERROTA TOTAL.

2) Ficar como terceiro partido. Resultado: DERROTA TOTAL.

3) Ficar acima dos 10%. Resultado. DERROTA TOTAL.

Na realidade o que sobra? Muito provávelmente ficar com os mesmo votos do
BE. Nos 6-7 %.
Não deveriam antes tirar ilações sobre a liderança e o futuro de Paulo
Portas à frente do PP?
Não é este facto uma evidente derrota do PP ? Ou a derrota é só do PSD !?

(V. Ramos)

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RESPONSABILIDADE

O PS está à altura deste resultado?
Eu acho que o resultado é em si mesmo gerador de responsabilidade.Que
absurdo seria face a tão grande capital de esperança falhar...o golo.O
inimigo era a abstenção e foi vencido.A campanha suja veio a seguir e podia
ter liquidado humana e politicamente Sócrates.Foi derrotada. A
responsabilidade é acrescida, mas foi forjada neste quadro difícil. Por isso
confio e acredito.

José Magalhães

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CONTRADIÇÕES

O PS ganha estas eleições no momento em que precisa de aplicar soluções
drasticamente contrárias à sua índole. Vamos ver o que isto dá mais depressa
do que parece.

ALX

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ADJECTIVOS

Das eleições: Um problema de adjectivos.

A Ana Drago diz que o BE tem uma vitória esmagadora.
Só falta descobrir o esmagado.

(Ana Melo Baptista)

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O ABRUPTO OU A VOZ DO "TREINADOR DE BANCADA"

e se experimentassem discutir os problemas de política em vez de continuar a olhar para a rama?

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TANBÉM O JOSÉ MAGALHÃES NO ABRUPTO

A vitória do PS foi contra muita coisa: inércia, depressão, lixo, campanhas
negras, défice de informação, medo de existir (Gil dixit!).Se não foi algo
foi...de mão beijada!-
Pacheco Pereira apenas acha que o PSD foi fraco de mais e que a luta foi
uma vergonha.
E foi. Mas podia ter surtido efeito se o PS tivesse reagido mal....E podia
ter posto as pessoas enojadas a ponto de não ir às urnas.E assim ocorreu,
mas ...junto de gente do PSD e da direita que recusa jogo sujo (isso tb
existe, deo gratias!).

José Magalhães

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ANTÓNIO LOBO XAVIER: PENSAR NAS PRESIDENCIAIS

a dimensão da derrota da direita é de tal ordem que já não estou realmente aqui, estou a pensar nas presidenciais.
(ALX)

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ANTÓNIO LOBO XAVIER

que está ao meu lado e não tem blogue vai escrever no Abrupto

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A DESCIDA

do PP não é para mim surpresa. A campanha do PP e o seu "sucesso" é um exemplo típico de "pack journalism" (exprimi reservas no Abrupto em tempo devido), esquecendo que uma coisa são as elites outra o eleitorado. O eleitorado do "Paulinho das feiras" não é o do "Ministro" absoluto. Para além do mais o que é que significa colocar um cartaz dizendo "classe média"?

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A CONFIRMAREM-SE

estas sondagens, verifica-se que as eleições foram um plebiscito sobre o Primeiro-ministro. Não há volta a dar a esta realidade. Sócrates recebeu uma vitória de mão beijada, que não era difícil de antever a não ser pela cegueira de muitos dos apoiantes de Santana Lopes que, no seu culto da personalidade, nunca admitiram os erros evidentes e a crise para que conduziram o PSD.

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E AGORA

José?

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VEM AÍ

a hecatombe.

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NESTA SITUAÇÃO

é que se percebe o anacronismo da legislação sobre o "silêncio" eleitoral, completamente alheia à realidade da comunicação dos dias de hoje.

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TALVEZ

possa colocar em linha algumas opiniões dos leitores do Abrupto, com as regras do costume e sem compromisso.

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OS DADOS FORAM LANÇADOS

e cairam como os dominós.

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PODE SER

pode ser, pode ser, que dumas eleições inesperadas, perplexas, incómodas, resultem muito mais mudanças do que as que eram esperadas. Deus escreve direito(?) com linhas tortas, ou, para incréus, a toupeira da história aparece onde não se espera.

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NOVAS

haverá.

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O MAIS BIZARRO DOS LUGARES

para fazer o Abrupto: a mesa dos comentadores da SIC. Vamos ver se consigo, por entre a chuva, escrever alguma coisa nesta noite de pequenas revoluções partidárias. Vai ser muito animado.

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COISAS COMPLICADAS


"Tomás duvidando", ícone do século XV da escola de Novgorod.

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INTENDÊNCIA 2

Não sei como ficou o resultado final da conversa que, ontem, eu e Eduardo Lourenço tivemos, para o número da Capital de hoje. Mas o Abrupto tem muita honra de o ter tido, aqui, sentado, entre os objectos da natureza morta de fim de manhã, a ver um ecrã onde, então, a “indolência” de Bonnard ocupava todo o espaço.

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NATUREZA MORTA DE FIM DE MANHÃ

Da esquerda para a direita. Uma pequena pilha de revistas e jornais para fazer uma bibliografia, um catálogo de uma exposição de 2003 de quadros de Avelino Cunhal, um disco com os quartetos para flauta de Mozart, uma mão, um cartão de eleitor, uma lupa, um molho de chaves, uma lâmpada de 60 w, um livro de Adorno com ensaios sobre música, a biografia de Graham Greene, volumes II e III, o II paperback, o III hardback, uma tesoura, um bloco do Porto Palácio Hotel, um postal de Anders Zorn, uma pilha de zips, uma caneta, um lápis do Sofitel, um telemóvel ligado, uma estação meteorológica – dezassete graus aqui, um pouco frio, dezasseis lá trás, nove lá fora, - um papel do Clube do Mato, uma jarra com água, dois olhos, um ecrã, Der erste Blick aus dem Fenster am Morgen, um pedaço de lava recente, um radiómetro andando muito devagar, uma maçã, um papel com anotações de sondagens, um agrafador, um telefone desligado, um esquecimento, um azulejo da Paula Rego, uma mão, um rato, meia dúzia de palavras, ar, uma sombra vaga, mais nada.

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INTENDÊNCIA

O poema de Brecht "Vergnügungen/ Prazeres", publicado ontem no Abrupto, com tradução original de Madalena Ferreira Åhman em O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COISAS SIMPLES ... OU PRAZERES.

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COISAS COMPLICADAS


Repin

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EARLY MORNING BLOGS 434

There once was a woman named Bright
Who travelled much faster than light:
She set out one day
In a relative way,
And returned on the previous night.


(Limerick anónimo)

*

O nosso risco de hoje. Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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